Estudo sobre  o caso Genie/ Neuropsicologia / Abril  2014

Estudo sobre o Caso Genie

Orientadora: Rute Velasquez
 INTRODUÇÃO

Talvez Genie tenha nascido normal. Era uma criança carismática e observadora, viveu grande parte da infância amarrada e em total silêncio. Condenada pelo pai viveu solitária após uma hipertermia, onde foi diagnosticada com um suposto retardo mental.  Tal suposição foi suficiente para que Clark Wiley – pai de Genie, a “protege-se” do mundo. Genie não desenvolveu linguagem, vivia de forma peculiar “[...] não conseguia esticar os braços ou as pernas nem mastigar, não tinha controle sobre a bexiga e os intestinos e não falava. Reconhecia apenas seu nome e a palavra sorry (desculpe)” (Papalia, Olds e Feldman; 2001 p.18). 

Os sons eram inexistentes para Genie, que era repelida ao tentar se expressar, sendo ameaçada com um porrete que era mantido ao alcance dos seus olhos como símbolo de alerta. Sempre que fazia algum tipo de barulho, era punida e amedrontada com rosnados do pai e do irmão mais velho. Genie viveu toda a precariedade que um humano poderia experimentar. Durante o dia, permanecia com pés e mãos amarrados, sentada em um minúsculo banquinho, desproporcional ao seu tamanho e desenvolvimento, e durante a noite, quando não era esquecida, era transferida para uma espécie de camisa de força, que também anulava qualquer movimento da criança. Sua dieta seguia desconforme a idade, o que poderia ter colaborado no pouco desenvolvimento físico. 

Genie foi descoberta num momento de grande especulação. “A Europa apresentaria um longa-metragem sobre a criança que viveu em meio aos lobos aparentemente até os 12 anos- produção de François Truffaut - The Wild Child – (Victor, o menino selvagem de Aveyron) – especialistas buscavam a compreensão da formação da linguagem humana”. Eric Lenneberg (linguista e neurologista), recentemente havia argumentado sobre a aquisição da fala dentro de um período correspondente aos dois anos e a puberdade. Susan Curtiss era uma estudante de pós-graduação da linguística que instantaneamente se interessou pelo caso, tendo a oportunidade de trabalhar com a criança. Genie chegava num cenário onde seria a atriz principal. 

O curso do estudo foi aprovado em 1971 e o Childrens Hospital de Los Angeles (CHLA) administrou o estudo intitulado "Consequência do Desenvolvimento do Extremo Isolamento Social", sob a direção do Dr. David Rigler. A equipe estava formada. Entre os membros estariam a Dra. Susan Curtiss e Dr.Victoria Fromkin.  Genie era submetida a testes e treinamentos, os quais confirmavam as ideias de Lenneberg.  O desenvolvimento de Genie era lento e sem muitos avanços. Conseguiu aprender palavras simples, sem a concretização de frases corretas. Aos poucos, Genie foi criando sua maneira própria de se comunicar, através de gestos e olhares. “Susan Curtiss em seu livro, "Genie: Um Estudo Psicolinguístico de um moderno-dia para crianças” descreveu como Genie, eventualmente, poderia usar uma linguagem limitada para descrever a crueldade de seu pai.” (JAMES, 2008).
O principal objetivo da equipe era a reabilitação de Genie e a compreensão do ‘período crítico’ para a aquisição da primeira língua, proposto por Lenneberg.

Vários testes foram aplicados:- psicológicos, linguísticos e neurolinguísticos, entre outros. A equipe buscava auxílio em todos os pontos que eram considerados cruciais para o conhecimento e desenvolvimento da criança. 

Em 1975, o Instituto Nacional de Saúde Mental dos Estados Unidos (NIMH), recusou a concessão dos estudos, alegando insatisfação quanto os resultados das pesquisas. Dessa forma, Genie, já com 18 anos, é devolvida aos cuidados da mãe que não possuía a capacidade especial para cuidar da filha. Genie então foi encaminhada para adoções sucessivas em lares distintos, tendo um reencontro com a violência, quando foi castigada pelos pais adotivos após uma crise de vômitos. Fato que estimulou uma regressão considerável e determinando silêncio total em Genie. Acredita-se que, atualmente Genie viva num abrigo para deficientes mentais, no sul da Califórnia.


BIOGRAFIA

Susan Wiley (18 de abril de 1957), conhecida como Genie - nome fictício originado da vida enclausurada que Susan experimentava, se assemelhando a do gênio, que se viu livre após anos vivendo dentro de uma garrafa- foi adotado pela equipe de profissionais responsáveis pelo caso, que se preocupavam com a privacidade de Genie.

Genie foi descoberta em 1970 com 13 anos de idade, por um funcionário no hospital que sua mãe Irene Oglesby, buscava cuidados médicos por dificuldades visuais. Por descuido, foi surpreendida dentro de um escritório de Assistência Social. A partir dai a vida de Genie tomaria um novo caminho.

Clark Wiley e Irene Oglesby casaram-se em Los Angeles no dia 28 de setembro de 1944. Clark e Irene tiveram quatro filhos, mas certamente, dois tinham morrido nas mãos de Clark.

A primeira filha, Dorothy Irene Wiley, nasceu 02 de junho de 1948 no Condado de Los Angeles. Ela desenvolveu algum tipo de doença típica da infância, então Clark envolveu-a em um cobertor e a colocou na gaveta de uma cômoda na garagem. Ela morreu. “O segundo filho Robert Clark Wiley, nasceu 15 de setembro de 1949 e morreu 17 de setembro de 1949, engasgando com seu próprio muco”, como foi relatado. Quando seu terceiro filho John Gray Wiley nasceu, no dia 11 março, 1952, viveu inicialmente com eles, mas quando John alcançava cerca de quatro anos, a avó paterna (Pérola,  mãe de Clark), acreditando que ele era desequilibrado, levou John para viver com ela. Dois anos depois, em 29 de dezembro de 1958, Pérola se envolveu em um acidente e teve o óbito.

Após o falecimento de Pérola, a família mudou-se para a velha casa, em Golden West Avenue, em Temple City, Califórnia, que, embora tivesse dois quartos, Clark não permitia a ninguém a permanência nos antigos aposentos de sua mãe, fazendo a família ocupar dormitórios improvisados em outras partes da casa. 

A família foi descrita como “pessoas estranhas viviam entre si”. Por volta de outubro de 1970, após uma briga, Irene conseguiu se afastar do marido levando Susan, e foi viver com sua mãe, a Sra. Beatrice Oglesby, em Monterey Park. Nessa mudança, Irene procurou um hospital para cuidar de sua visão e acabou sendo surpreendida pela assistência social que denunciou o caso.

No dia 05 de novembro de 1970, Susan Wiley "Genie" foi removida de seus pais e fez um ala dependente do Estado. Susan Wiley "Genie" tinha um procurador do Estado e advogado nomeado chamado John Miner.

 “Clark foi acusado, mas se matou no dia 20 de novembro, com 70 anos”. O julgamento contra Irene (50 anos) continuou até 15 de dezembro de 1970, quando o juiz Peter Smith S. em Alhambra Municipal Tribunal, rejeitou as acusações contra ela. 
Susan Wiley foi colocada num orfanato no Colégio Imaculado Coração de 1973 – “O Sophia T Salvin Escola - 1973-1974”, “Diane S Leichmann Escola 1974-5”, e na “Escola Lincoln 1976-7”.

Em 1979, Irene Wiley, entrou com uma ação contra o "Hansen, Rigler, Kent, Curtiss, e do Hospital Infantil de Los Angeles" acusando-os de excessivos e ultrajantes testes. Os advogados de Irene foram Louise Mônaco e Samuel Paz. O programa da PBS "The Wild Child", com data de 04 de março de 1997 inclui uma declaração de que: "... Genie agora vive em uma casa de adultos de assistência social no sul da Califórnia.”.

Dorothy Irene (Oglesby) Wiley morreu em 2003, em Los Angeles. Seu irmão John é um pintor de casa, vivendo em Ohio. Susan provavelmente vive em uma casa de cuidados de adulto, na Califórnia.

Segundo (Papalia, Olds e Feldman; 2001), existe um período das principais evoluções desenvolvidas no ser humano que são baseados em cinco fases da idade infantil, onde se desenvolve o físico, cognitivo e psicossocial. Essas fases estão separadas entre as idades do pré-natal (período de gestação), primeira infância (do nascimento até 3 anos), segunda infância ( 3 a 6 anos), terceira infância (6 a 11 anos) e a puberdade (11 a 20 anos). Genie foi privada dessa evolução. Fonseca, afirma em seu artigo que, o desenvolvimento neuropsicológico é o produto final de vários fatores e eventos bioquímicos, mas esses não explicam a complexidade dos processos de aprendizagem. 

O desenvolvimento neuropsicológico e concomitantes sistemas funcionais surgem só quando interagem com um envolvimento apropriado e com adequados requisitos de mediatização. Se uma criança for criada com indivíduos que não falam, nem lêem e não a mediatizam cognitiva e simbolicamente, ela nunca aprenderá a falar, a ler ou a pensar criticamente com fluência, ilustrando assim o paradigma das crianças selvagens (por exemplo, caso Genie).  (FONSECA, 2009 p.10).

A princípio, Genie demonstrava compreensão em palavras isoladas acompanhadas de entonações negativas, mas ignorava as sentenças, levando os pesquisadores a dependerem de gestos e outros métodos linguísticos para comunicarem com a criança e desenvolverem o trabalho. Tudo para Genie era novidade, ela havia perdido os estímulos necessários para o desenvolvimento evolutivo. Foram observadas oscilações relacionadas no comportamento de Genie, que manifestava atitudes como tivesse idades diferentes. Apresentava atraso em seus estímulos, geralmente demonstrava forma preguiçosa, embora fosse capaz de refletir sobre os fatos acontecidos no passado. Os resultados foram variados e de difícil interpretação. Não era possível obter a certeza se o cérebro da menina era retardado ou se apresentava dificuldades causadas pela precariedade vivida durante todos os anos de isolamento. O cérebro de Genie indicava em testes psicológicos o aumento de um ano, características de um cérebro normal.
 Curtiss concluiu que Genie parecia ser “uma pensadora do hemisfério direito, usando esse hemisfério para a linguagem.”. 
Observando que várias pesquisas apontam o hemisfério esquerdo como sendo responsável pela linguagem verbal, o cérebro de Genie apresentava uma maneira não formal de se expressar. 
Genie progredia e regredia, de acordo com os testes e exames aplicados em cada área interessada na pesquisa. O trabalho da reabilitação complicava pela falta da estrutura metodológica em alcançar e entregar os resultados. Não era fácil lidar com um fato tão novo, e os interesses da equipe em torno de Genie eram compreensivos. Através do caso, muitos profissionais poderiam conquistar sua plenitude na área das ciências, o que acabou atrapalhando a reabilitação pessoal da criança. Alguns visavam o lado emocional, outros estimulavam seu desenvolvimento linguístico, motores, neurais. Não havia consenso nas atribuições e nos testes aplicados à Genie. 


HISTÓRICO DO CASO: INFORMAÇÕES IMPORTANTES ORGANIZADAS DE FORMA CRONOLÓGICA

1. Talvez Genie tenha nascido normal; 
2. Viveu ao isolamento mais completo possível;
3. Era-lhe destinado um quartinho, onde permaneceu durante anos, presa a uma cadeira, podendo movimentar apenas os pés e mãos;
4. À noite, ficava numa espécie de camisa de força;
5. Ninguém podia entrar no quarto de Genie, onde devia reinar o silencio.
6. No início, Genie emitia uns sons, mas era repelida pelo pai com uma surra;
7. Os sons que Genie ouvia, baseavam-se nos do banheiro existente ao lado do seu quarto e dos grunhidos que o pai fazia para amedronta-la;
8. Eram paupérrimos, os estímulos visuais, 
9. Genie foi ‘descoberta’ e internada num hospital por subnutrição;
10. Aos 13 anos pesava apenas 27 kilos;
11. Genie não sabia ficar de pé, caminhava mal, oscilando de um lado par o outro;
12. Não sabia mastigar;
13. Não controlava as necessidades fisiológicas;
14. Genie arranhava os objetos, batia os pés;
15. Para uma melhor compreensão, era necessário completar as palavras ditas à Genie, com gestos, ou outras manifestações.
16. Genie demonstrava interesse em querer aprender;
17. Gostava das grandes lojas e de objetos coloridos;
18. Genie demonstrou novamente superação, quando aprendeu a não ter medo do cachorro da família adotiva;
19. O livro da psicóloga Susan Curtiss ilustra a pesquisa neuropsicológica feita com Genie e as etapas da sua reabilitação;
20. Esses casos interessaram muito aos estudiosos de outrora, para a compreensão  do efeito da educação, cultura de da sociedade em geral sobre o desenvolvimento psicológico de um indivíduo; 
21. O caso Genie tem a vantagem de ter sido estudado com as modernas técnicas de pesquisa neuropsicológica e à luz das mais avançadas teorias sobre a organização funcional do cérebro;
22. Qual o período crítico para uma interação com a aprendizagem da a linguagem? Os psicólogos queriam entender, como o cérebro de Genie, embora privado de um estímulo ambiental adequado, conseguiu adquiri uma função que deveria ser perdida irremediavelmente;
23. Definiram Genie, como uma pensadora do hemisfério direito;
24. Genie tinha uma capacidade estupenda de reconhecimento;
25. Por outro lado, a linguagem recuperada não era perfeita;
26. Era então um cérebro diferente do precedente, outro cérebro, que deve incumbir-se das funções visuais-espaciais passadas e das novas funções verbais;
27. Encarregando-se do aspecto comunicativo propriamente dito da linguagem (geralmente controlado pelo hemisfério esquerdo), o hemisfério direito perdera, contudo, as características específicas da sua contribuição indireta à comunicação verbal. (É o hemisfério direito que controla os aspectos emotivos, afetivos da linguagem).
28. Genie conquistou a linguagem, mas a linguagem automática;
29. Genie não sabia se comunicar, mediante a linguagem, seu mundo de sentimentos, mas nem por isso era vazia por dentro;
30. Dos muitos testes aplicados a Genie, resultou que ela efetuava as suas funções operacionais verbais certamente através do hemisfério direito. O hemisfério esquerdo que não havia sido posto em ação no momento crítico, não responderia mais aos estímulos verbais ambientais.
31. Assim, a linguagem de Genie ter-se-ia tornado o apanágio do hemisfério direito, mas com limitações, por ter perdido um hemisfério cerebral e apoiado nas outras partes intactas do cérebro. 

ARQUIVO SOBRE O DESENVOLVIMENTO DO CASO: 
Título: David Rigler coleta de materiais Investigação relativa aos Estudos Linguísticos-psicológica da Genie 

Encontrar Ajuda à Rigler Coleção David of Materials Research relacionados aos Estudos Linguísticos-psicológica da Genie (pseudônimo), 1895-20…
https://www.oac.cdlib.org/findaid/ark:/13030/kt0q2nc69q/entire_text/2/10

Título: David Rigler coleta de materiais Investigação relativa aos Estudos Lingüísticos-psicológica da Genie (pseudônimo)
Data (inclusive): 1895-2003, 1970-2003
Número Colecção: 800
Criador: Rigler, David
Processamento de Nota
O material nesta coleção tinha estado na posse do Dr. David Rigler, um investigador principal no estudo Genie, desde 1975. Ele armazenados os materiais em seu escritório e / ou residência, após a conclusão da pesquisa, em meados da década de setenta. A coleção foi embalada e enviada para a Dra. Susan Curtiss, UCLA Departamento de Linguística, em 2005. Pessoal Manuscritos Divisão, concluído um inventário de nível caixa naquele momento. Os papéis foram desumidificado com pérolas de gel de sílica, e tratados para o potencial de infestação de insetos com armadilhas adesivas e iscas de ácido bórico. No início de 2006, Timothy Holanda criou um inventário preliminar dos materiais audiovisual, e Elizabeth Sheehan começou a processar os documentos sob a supervisão de Laurel McPhee. Os materiais foram colocados em pastas, descritos e organizados em níveis de série e subsérie para melhorar o acesso à coleção e para criar um instrumento de pesquisa.


Citação preferida
[Identificação de item], David Rigler coleta de materiais Investigação relativa à lingüístico-Psicológicos Estudos da Genie (pseudônimo) (Coleção Número 800). UCLA Biblioteca Coleções Especiais, Charles E. Young
Research Library, UCLA.
Biografia / História
"Genie" é o pseudônimo de uma menina de 13 anos que, em 4 de novembro de 1970, foi internado no Childrens Hospital Los Angeles como uma vítima de extremo isolamento e privação de sua família imediata. Ela foi descoberta depois de um Departamento de Serviços Sociais do trabalhador caso tomou nota da Genie quando sua mãe, que estava perdendo a visão, visitou Serviços Sociais buscando ajuda para os cegos. Exames médicos e psicológicos subsequentes no Childrens Hospital observou que Genie tinha competências linguísticas e motoras muito abaixo do seu nível etário.

Em 1971, os membros da equipe Childrens Hospital intimamente envolvidos no caso de Genie aplicada ao Instituto Nacional de Saúde Mental (NIMH) para concessão de financiamento para estudar história do caso de Genie e progresso do desenvolvimento durante os esforços de reabilitação. A concessão foi aprovada e 1971- 1975 Childrens Hospital de Los Angeles (CHLA) administrou o estudo intitulado "Consequence Desenvolvimento do Extremo isolamento social", sob a direção do Dr. David Rigler. Durante o curso do estudo, os membros da equipa de investigação incluiu outros funcionários CHLA, UCLA Departamento de pesquisadores Linguística (incluindo o Dr. Susan Curtiss e Dr. Victoria Fromkin), e uma variedade de consultores externos.

Em agosto de 1971, determinou-se que para o benefício de Genie ela deve ser removida do ambiente hospitalar e ser colocado em um lar adotivo. Por causa de ser um caso único e grave, a colocação era difícil e acabou sendo determinado que ela iria morar com David e Marilyn Rigler. Os Riglers, além de serem membros da equipe de pesquisa, foram os pais adotivos do Genie 1971-1975. Esta situação incomum seria um fator em uma ação judicial depois arquivado pela mãe de Genie.

Em 1975, NIMH recusou a renovar a concessão e o estudo chegou ao fim. Colocação de Genie com as Riglers também chegou ao fim. Agora 18 anos de idade e legalmente uma adulta, ela foi liberada aos cuidados de sua mãe, que era incapaz de lidar com as necessidades especiais de Genie. Genie foi então colocada em um lar adotivo, que provou ser especialmente prejudicial para o seu progresso e bem-estar psicológico. Como resultado, ela foi readmitida no Childrens Hospital, em 1977, por duas semanas. 

Após a sua libertação, Genie foi colocada em outro lar adotivo. Em 1979, a mãe de Genie entrou com uma ação (C 276 459) contra Childrens Hospital Los Angeles e David Rigler, Howard Hansen, James Kent, Vrinda Knapp, e Susan Curtiss, individualmente. Na ação, ela alegou que CHLA e os vários réus violaram o médico- paciente, a relação psicoterapeuta de Genie e ela mesma quando a informação confidencial foi revelada publicamente. 

A ação foi resolvida em 1984 e a aspereza da ação cortou temporariamente o relacionamento entre os pesquisadores e mãe de Genie, resultando em vários anos de falta de comunicação com ela e Genie. No entanto, em 1992, a mãe de Dr. David Rigler e Genie restabeleceram a comunicação, e os Riglers, posteriormente, visitou com Genie. Apesar de não ser indicado nos arquivos de cobrança, de acordo com Russ Rymer, autor do livro Genie: Uma Tragédia Científica, no início da década de 1990 Genie estava vivendo em uma casa de adultos para deficientes mentais, onde se acredita que ela permanecia em 2006.


PROCEDIMENTOS EMPREGADOS: ATIVIDADES, TERAPIAS E OUTROS REALIZADOS PARA SANAR AS QUEIXAS OU DIFICULDADES APRESENTADAS

Segundo Fitzpatrick, (2001), durante a reabilitação de Genie, vários tipos de dados foram coletados em uma variedade de formas: entrevistas (com a mãe de Genie), relatada a partir da divisão de psiquiatria no hospital infantil, fitas de vídeo, gravações, observações do discurso de Genie, testes psicológicos, testes de linguagem, testes neurolinguística, trabalhar com a linguagem escrita e linguagem gestual. 

Genie foi submetida os testes para a compreensão da sua linguagem. Alguns deles foram desenvolvidos especialmente para o caso, já que não eram possíveis as respostas verbais. Sendo ao todo, 17 tipos diferentes, que eram administrados semanalmente num período de dois anos. Esses testes demonstravam que Genie reagia aos treinamentos, pois já apresentava habilidades linguísticas com o entendimento e produção de algumas palavras, mas sem concordância verbal. Isso explicava a teoria de Lenneberg sobre o Período Crítico:

“[...] uma época específica em que determinado evento ou sua ausência tem impacto no desenvolvimento. Se um evento necessário não acontecer durante um período crítico do processo de amadurecimento, o desenvolvimento não ocorrerá e os padrões anormais resultantepodem ser irreversíveis.” (Knudsen, 1999, apud  Papalia, Olds e Feldman;. P.18)



Os pesquisadores recorriam a vários métodos específicos, sempre direcionados à suas especializações, como exemplo, temos o adotado pela Dra, Marilyn Rigler, que a estimulava expressar seus sentimentos como a raiva, chutando portas. Essa maneira desorganizada de trabalhar acabou trazendo consequências para Genie.

David Raigler – psicólogo, era o terapeuta e tutor de Genie. Tendo dificuldades para retratar o projeto da pesquisa - talvez por não conseguir conciliar o múltiplo papel a ele atribuído – acabou perdendo o financiamento NIMH e se viu obrigado a terminar a investigação. Para o futuro de Genie, estavam reservadas novas adoções. 

RESULTADOS

Genie deu uma resposta surpreendente às pesquisas já nas primeiras semanas de treinamentos. Logo após algumas semanas já repetia palavras e não demorou muito para conseguir falar espontaneamente. Em um ano, Genie já pronunciava frases e, assim foi possível para os pesquisadores, concluírem que o desenvolvimento da linguagem de Genie assemelhava-se ao das crianças normais, com a diferença de possuir um vocabulário maior do que o delas, pois Genie era capaz de lembrar de listas consideravelmente grandes de palavras. O que , para estudiosos, definia a linguagem além da memorização.

Constataram que a linguagem de Genie, por falta de estímulos primários não se desenvolveu, a criança perdeu a introdução da língua nativa na época necessária para, o desenvolvimento da fala, embora Genie apresentasse um desenvolvimento cognitivo normal, sendo capaz de entender os objetos ao seu redor manipula-los de maneira correta.

Segundo Cagliari (2003), nesse mundo de abusos, Genie não desenvolveu linguagem: olhava, se assustava e chorava em silêncio. Mas, no seu silêncio, os cientistas viram uma excelente oportunidade para buscar respostas para perguntas cruciais, como, por exemplo, se há uma idade limite para a aquisição da linguagem.

ANÁLISE EXPLICATIVA
 
O estudo sobre Genie mostra a necessidade da aquisição da linguagem logo após os dois primeiros anos de vida que deve ser trabalhada até a puberdade, embora a pesquisa não tenha apresentado tanta convicção nesse argumento. Pois alguns consideram a puberdade um período mais sensível para o aprendizado da linguagem. Observa-se que o cérebro direito de Genie assumiu algumas funcionalidades do cérebro esquerdo, como a verbalização. E por isso a menina era capaz de se comunicar. Genie desenvolveu meios de comunicação.

De acordo dom Fonseca (2009, p.4), nenhuma área do cérebro pode assumir responsabilidade exclusiva por qualquer comportamento humano voluntário ou superior, como ler, exatamente porque o desempenho ou a realização de funções psíquicas superiores, como a aprendizagem da leitura, se fundamenta em uma interação dinâmica e sistêmica de muitas áreas do cérebro.

As pesquisas de imagens do cérebro revelaram que, apesar de as partes do cérebro mais adequadas ao processamento da linguagem, serem danificadas no início da infância, um desenvolvimento da linguagem próximo ao normal pode continuar à medida que outras partes do cérebro assumem o comando. (Boatman et al., 1999; Hertz-Pannier et al., 2002; M. H. Johnson, 1998).


PROGNÓSTICO

Seguindo a análise das pesquisas relacionadas nesse trabalho, constata-se um prognóstico negativo, considerando o não desenvolvimento verbal para indivíduos que tiveram uma infância isolada, embora tenham prevalecidas as capacidades perceptivas e os equipamentos linguísticos básicos desenvolvidos pelo cérebro direito, como as cores, formas, memorização, - observado nos testes aplicados a Genie.

Fonseca (2009, p.9) afirma que o hemisfério esquerdo é mais vocacionado para o processamento e reconhecimento de informação verbal e simbólica, ou seja, mais analítico e espacialmente mais organizado, enquanto que o hemisfério direito é mais preferencialmente orientado para o processamento e reconhecimento da informação não verbal e não simbólica espacial e musical postural e facial, ou seja, é mais difusamente organizado, por subsistirem redes funcionais que apresentam distintos mediadores químicos em ambos os hemisférios.

Ainda para Fonseca (2009,p.5) o cérebro sob condições normais é um órgão plástico e flexível, e é nessas condições que o processo normal de aprendizagem da leitura ou da escrita ocorre. Se efetivamente surge um problema ou uma dificuldade, por lesão, imaturidade ou por outra razão, não dizer que o sistema funcional esteja prospectivamente bloqueado ou desagregado. Pelo contrário, o que esta concepção sugere é algo muito diferente. Se existe alguma dificuldade, podemos mudar a natureza da tarefa (condições externas), ou então, mudar a composição do sistema ou cadeia funcional, mudando a localização neurofuncional onde a informação é processada (condições internas), alterando a modalidade de input ou de output, adequando novas formas de processamento simultâneo ou sequencial da informação, modificando o conteúdo verbal para não verbal, ajustando a estrutura mental de um componente para subcomponentes mais elementares, ou então, promover e automatizar as funções cognitivas de processamento de dados (input, elaboração e output) etc; adaptando a tarefa ao perfil cognitivo do indivíduo. 

CONCLUSÃO

Genie foi encontrada aos 13 anos, após viver condenada à cárcere privado pelo próprio pai. Ela não conseguiu desenvolver sua capacidade de fala ou movimentos. Não aprendeu mastigar, tinha limitações visuais e auditivas. Não controlava suas necessidades fisiológicas. Genie não era ‘tão humana’. 

Logo surgiu a atenção sobre o assunto, pois havia uma especulação sobre o desenvolvimento da linguagem por parte de alguns pesquisadores. Genie era a matéria perfeita para esse estudo, porquanto, não era possível criar uma pessoa nas condições deploráveis como foram as de Genie, apenas para estudos futuros. Genie então surgira única num cenário propício.

Começaram os estudos, de maneira desorganizada e de forma profissional egocêntrica.
Genie deveria ser inserida no espaço social e desenvolver suas capacidades comportamentais.
Foram criados vários testes e treinamentos especializados para o estudo do Caso Genie, 

Genie conseguiu evoluir, embora tenha aprendido a andar, conseguisse mastigar com limitações, e tenha descoberta uma maneira própria de se comunicar, ela não conseguiu usar a linguagem verbal. Genie não teve um final feliz, recebendo do autor Russ Rymer, uma publicação: Genie: UmaTragédia Científica.

 Conclui-se que a necessidade de inserção do ser humano na sociedade esteja de encontro com a ideia de Lenneberg, quando afirma existir de fato um período crítico para aquisição da fala. Os estímulos ambientais estimulam as interações sociais, não bastando apenas a genética humana para tais desenvolvimentos.

Os estudos feitos com Genie foram benéficos para a constatação das especulações, embora não tenham adquirido as respostas esperadas, contudo, Genie não foi recompensada pela doação, ainda que induzida.




Referências bibliográficas

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