ESTÁDIO DO ESPELHO

Segundo Lacan (1966), o estádio do espelho compreende: 

(...) como uma identificação, no sentido pleno que a análise atribui a esse termo, ou seja, a transformação produzida no sujeito quando ele assume uma imagem – cuja predestinação para este efeito de fase é suficientemente indicada pelo uso, na teoria, do termo imago (LACAN, 1996, p. 97). 

O Estádio do Espelho refere-se ao período que se inicia aos seis meses, aproximadamente, encerrando aos dezoito meses, caraterizado pela representação da unidade corporal pela criança e também por sua identificação com a imagem do outro (GARCIA-ROZA, 1999). 

Garcia- Roza (1999) salienta que o estágio do espelho não se refere necessariamente à experiência concreta da criança frente ao espelho. “O que a criança ver é um tipo de relação com seu semelhante. Essa experiência pode se dar tanto em face de um espelho, pela mãe ou pelo outro, mas no nível do Imaginário” (GARCIA-ROZA, 1999, p. 212-213). 

Para Wallon (1975), o espelho é considerado um objeto privilegiado para traduzir o aspecto exterior do corpo. As dificuldades pelas quais as crianças têm que passar até poderem se apropriar de uma imagem total de si são esclarecidas quando se observa uma criança na frente do espelho. Esse reconhecimento da imagem e a possibilidade de reportar essa imagem a si própria. 

No texto, O papel do espelho da mãe e da família no desenvolvimento da criança, Winnicott (1975) refere-se ao rosto da mãe como o precursor do espelho no desenvolvimento da criança. Quando a criança olha para o rosto da mãe, o que ela ver é a si própria. O rosto da mãe funciona como espelho e como lugar a partir do qual se iniciam as primeiras trocas significativas com o mundo. 

Quando a criança se questiona sobre a imagem que vê no espelho, ela busca, no adulto, a referência de que aquela é a sua própria imagem. No entendimento lacaniano, essa imagem do corpo, ou seja, a constituição de eu na criança, depende, não apenas de um desenvolvimento maturacional, mas exige a implicação do outro. 

Assim, por questões de pré-maturação a criança faz confusão entre si e o outro. Passa por uma experiência inicial de um corpo fragmentado, para alcançar a formação do corpo unificado. Esta experiência se dá por meio do espelho. 

A criança liberta-se da angústia das fantasias do corpo despedaçado. Esta identificação é entendida como processo simbólico na qual a criança faz a primeira estruturação do eu, da sua imagem. 

A imagem corporal tem um papel fundamental na constituição do sujeito. Conforme visto em Lacan, a imagem especular possibilita a criança estabelecer a relação do seu eu com a realidade.