Waking Life - Despertando para a vida

“O homem autodestrutivo sente-se totalmente alienado e solitário.
Ele é um excluído da comunidade.
Ele diz para si mesmo: “Eu devo estar louco” .
O que ele não percebe é que a sociedade, assim como ele próprio…
tem um interesse em perdas consideráveis, em catástrofes.
Guerras, fome, enchentes atendem a necessidades bem-definidas.
O homem quer o caos."
Após perceber que não consegue acordar de um sonho, um jovem passa a encontrar pessoas da vida real dentro do seu estado onírico contínuo, com quem tem longas conversas sobre os vários estados da consciência humana e discussões filosóficas e religiosas. Um longa-metragem escrito e dirigido por Richard Linklater, totalmente feito em animações e efeitos cartunizados de vídeo, traz profundas reflexões sobre a vida, a consciência e a morte.
(SINOPSE DO FILME WAKING LIFE).

"Após não conseguir acordar de um sonho, um jovem passa a encontrar pessoas da vida real em seu mundo imaginário, com quem têm longas conversas sobre os vários estados da consciência humana e discussões filosóficas e religiosas." 

 

ANÁLISE DO FILME: “Waking life” (EUA, 2001).
Direção e roteiro de Richard Linklater Direção de Arte de Bob Sabiston.
 
A VIDA QUE SE É VIVIDA É MAIS BEM COMPREENDIDA DO QUE
AQUELA QUE GOSTARÍAMOS DE VIVER?
 
O personagem principal do filme reflete sobre a importância da subjetividade, e anseia por um
tempo de convivência. Busca uma chance de uma conversa franca e significativa com alguém
que o faça perceber o sentido de pertencer a uma comunidade e, portanto, de se apropriar das
experiências que tem continuamente. Deseja assim, compartilhar sabedoria, o que nada tem a
ver com erudição, mas com o conhecimento adquirido através das vivências. 
 
Ao confrontar a subjetividade é necessário que ele questione sobre a dificuldade em se tornar positivista, já
que o ser humano tende ao negativismo contaminando assim, o seu meio. Ele percebe que
uma manifestação negativa abordada de forma diferente poderia gerar uma afirmação positiva
levando o homem a acreditar na sua existência.
 
De acordo com Sartre, o existencialismo é uma doutrina que torna a vida humana possível e
que, por outro lado, declara que toda a verdade e toda a ação implicam um meio e uma
subjetividade humana.
 
A busca pela subjetividade é o reconhecimento de que o indivíduo não é apenas o que
escolheu ser, mas também, através de suas escolhas, uma influencia para toda a sociedade
com a suas angústias, desamparos e sentimentos.
 
Nesse sentido Sartre afirma que o homem não é apenas restritamente responsável pela sua
individualidade, mas que é responsável por todos os homens. 
 
A subjetividade tem dois
sentidos, por um lado quer dizer, a escolha do sujeito individual; e por outro, a
impossibilidade de superar a subjetividade humana, sendo esta impossibilidade, o sentido
profundo do existencialismo. Quando se diz que o homem escolhe a si próprio, nessa escolha
também escolhe ele, todos os homens.
 
O indivíduo através de suas angustias, é causador de uma dificuldade ligada ao seu
reconhecimento, de como vive e como a vida deveria ser vivida, essa relação é demonstrada
no filme quando o personagem principal nota que, no mundo onírico não há questionamentos
éticos, sociais e culturais ligados às atitudes de outros personagens.
 
 
“Passamos pela vida esbarrando uns nos outros, sempre no piloto automático, como formigas, não sendo solicitados a fazer nada de verdadeiramente humano. Pare. Siga. Ande aqui. Dirija ali. Ações voltadas apenas à sobrevivência. Toda comunicação servindo para manter ativa a colônia de formigas de um modo eficiente e civilizado. -“O seu troco”, “Papel ou plástico?”,“Crédito ou débito?”, “Aceita ketchup?”.- Não quero um canudo. Quero momentos humanos verdadeiros. Quero ver você. Quero que você me veja. Não quero abrir mão disso. Não quero ser uma formiga, entende?” (65’04”, WAKING LIFE, 2011)
 
A principal indagação do filme seria em torno daquilo que consideramos empírico e nos leva a uma temática a respeito da realidade que é posta de forma ora onírica ora não, onde todas nossas vontades e manifestações do inconsciente são livres sem preceder julgamentos sociais, morais e éticos.
 
 
As cenas do filme mostram claramente as questões existencialistas como: amor, medo, revolta, frustração e o livre arbítrio. Sartre define o livre arbítrio, como uma mera ilusão visto que, a liberdade nunca será a única opção do individuo.
 
Dessa forma, a busca pela subjetividade extrapola os limites do chamado senso comum, pois através dos desdobramentos do filme, é possível mergulhar a fundo nos próprios sonhos de forma que, a fusão com os mesmos seja inevitável.
 
 
Abaixo, algumas questões, enfatizando o curso da vida. Processos de experienciação, perspectivas e vivencias que são adquiridas através das angustias do ser humano, conforme foram demonstradas no filme.
 
1. A responsabilidade sempre será nossa diante da vida que vivemos e dos atos que efetuamos, basta tomarmos consciência deste poder e dever subjetivo.
 
2. A indução do outro só e possível diante a permissão, o que nos retira toda responsabilidade da ação.
 
3. Por mais que tenhamos tentado e falhado, há sempre uma nova possibilidade, bastando ter vontade e coragem.
 
4. Vivencias e experiências são possíveis através de tentativas, o medo nada mais é do que a escancarada falta de permissão e liberdade individual.
5. A decepção pode nos levar ao isolamento, assim, a solidão somente enfatiza a necessidade que temos do outro mostrando que a vida em conjunto tem total importância, pois, só assim podemos efetuar nossas vontades e ações.
 
6. A preocupação com a origem e o inicio da existência nada mais se aliena com a frustração do desconhecido. 
Nesse aspecto, nos é tirado a liberdade de escolha, somos seres para morte, mas não sabemos e nem aprendemos a lidar com ela. Subjetivamente criamos teorias para o alivio deste impacto de certeza que rege a todos.
 
7. Buscamos teorias para abranger e sintetizar a clareza e o peso da nossa liberdade de escolhas, já que em alguns momentos as escolhas geram duvidas, duvida geram culpas, culpas trazem angustias, e nem sempre sabemos lidar com elas.
 
8. Com a percepção e acúmulo de vivência, constrói-se o amadurecimento. Temos a necessidade da construção da nossa historia, para explicarmos nosso lugar e o tempo vivido e, assim, nos estabelecermos como existentes.
 
 
Alguns existencialistas se declaram cristãos e alguns se declaram ateus, mas em comum, possuem o princípio de que, como diria o próprio Sartre “a existência precede a essência”, sendo então adeptos a própria subjetividade, sempre considerando as perspectivas de cada individuo que, deve ser levada em conta de forma individual, possível e válida. 
 
Eles também com a sabedoria de forma multifacetada, o que os permite uma ampla visão a respeito do existencialismo e nos faz refletir a respeito de nossas ações, sejam elas, com familiares, relacionamentos com a sociedade e outras culturas.
 
Podemos confirmar a presença de Platão no filme através do Mito da Caverna, numa passagem do livro “A República”, onde mostra que o homem já nasce com a condição de prisioneiro dentro de uma caverna que é iluminada apenas por uma fogueira e, para se distrair, a comunidade ali situada busca atribuições às sombras projetadas que representariam animais, pessoas e objetos.
 
O impacto produzido pelo filme na formação de um psicólogo se assemelha ao dos personagens coadjuvantes que, através de seus diálogos, apresentam ao personagem principal, carregado por suas angústias existencialistas, maneiras de absorver novas ideais olhando para si e se questionando.