A depressão e a sensação de pertencimento

 
Um bebê, ao nascer, possui uma "pequena" consciência que necessita se desenvolver. Ele se apóia nos familiares para saber quem é e o que são as coisas do mundo. Seu pai o abraça e diz: "vem cá meu filho..." Frases simples como esta vão demarcando o mundo e vão nomeando a realidade. Ou seja, para o bebê é uma questão de sobrevivência esta fixação no quem vem de fora. É assim que ele aprende e se desenvolve. 

Junto aparece uma sensação agradabilíssima: pertencimento. Eu pertenço a algo e me sinto bem e MUITO SEGURO neste algo.

Esta necessidade de pertencimento é muito forte no ser humano imaturo. Na adolescência, quando começa a ter suas "próprias idéias", ou seja, se separa um pouco da família, o adolescente busca um grupo. É só andar em um shopping que você verá bandos de adolescentes querendo ser diferentes e sendo completamente iguais. O que acontece na mente deles é que o sentimento de pertencimento diminui na sua relação com a família. Portanto, eles precisam de buscá-lo em outro lugar. É aí que entra o grupo, e seus modelos que podem ser copiados.

Uma das mais importantes evoluções que devem acontecer com todos os humanos é a diminuição desta dependência da sensação de pertencimentofixada em algo EXTERNO.

Uma consciência evoluída e madura, deve buscar cada vez mais DENTRO DE SI este pertencimento. Quem não faz este processo de transição do externo para o interno sofre e fica passível de ser manipulado de várias formas.

Alguns adoecem, como foi o caso do físico. A maioria fica insatisfeita e sempre procurando soluções externas onde possam se apegar.

Uma das formas de manipulação que a consciência imatura sofre é a idealização.O desejo por um ideal que negativiza o que é real. O que é real não é suficiente e nem razoável. A pessoa fica insatisfeita com o real; a solução é abraçar alguma ideia que o substitui. Os preconceitos e os julgamentos possuem grande força porque são ancorados nesta sensação de pertencimento.

Exemplo: se o grupo considera que uma mulher honesta deve ficar em casa e a pessoa não concorda, ela passa a ter uma identidade diferente do grupo. Com isto diminui a sensação de pertencimento. O desprazer e a insegurança que acompanham a "perda" da sensação de pertencimento pode provocar neurose nesta pessoa ou vários outros conflitos mentais. Em grande parte das vezes as pessoas começam a desconsiderar suas próprias opiniões para voltarem a se sentir pertencendo ao grupo (sendo igual ao grupo).

Muitas neuroses, falta de "energia e ânimo", depressões, irritabilidade, ansiedade, etc, tem sua origem neste mecanismo: a busca por ter novamente e externamente a sensação agradabilíssima e a SEGURANÇA do PERTENCIMENTO.

Todo este processo se dá de forma semi-consciente e envolto em discursos e crenças que escondem a realidade desta dependência.

O que aconteceu com o físico foi exatamente isto: primeiro ele rompeu com as crenças de sua época. Passou décadas lutando para ser aceito; ao não atingir seus objetivos, pôs fim à sua vida.

Uma grande parcela dos deprimidos sentem um vazio existencial. Uma falta de conexão ou desidentificação com o real à volta. Algumas vezes este processo se dá de forma muito mais sutil. Mas, é o bastante para cortar uma boa parte do prazer e da alegria com a vida.