- O bom da pipa não é mostrar aos outros, é sentir individualmente a pipa, dando ao céu o recado da gente.

- Que recado? Explique isso direito!

João olhou-me com delicado desprezo.

- Pensei que não precisasse. Você solta o bichinho e solta-se a si mesmo. Ela é sua liberdade, o seu eu, girando por aí, dispensado de todas as limitações.

Carlos Drummond de Andrade

 
 
 

RESUMO

Na educação infantil, as crianças encontram-se intensamente dependentes do adulto para conduzi-las e assessora-las nas atividades que são incapazes de realizar sozinhas, incluindo as necessidades básicas, físicas e psicológicas. O estímulo para a espontaneidade através do brincar, do movimentar-se nos diversos espaços, de expressar seus sentimentos e pensamentos, é um fator importante; sempre respeitando o conhecimento empírico da infância. Neste sentido, percebe-se que, para contribuir na formação de uma criança nos aspectos individuais e sociais, é necessário estimular e facilitar com objetivos claros e precisos, direcionados para a construção de seres humanos capazes de viver na sociedade de forma autônoma, solidaria e cidadã e o “brincar” se mostra como sendo a forma adequada para que o processo de ensino-aprendizagem ocorra. Este trabalho apresentará o percurso do estágio dos alunos do curso de Psicologia do Centro Universitário de Belo Horizonte - UniBH-Estoril, oferecido pela Unidade Municipal de Educação Infantil (UMEI) – Luxemburgo durante o primeiro semestre do ano de 2015.

Palavras-chave: UMEI, aprendizagem, brincar, estágio.

 

INTRODUÇÃO

“A escola é um lugar privilegiado para a interação e a aprendizagem social, desempenhando uma função psicossocial no desenvolvimento do ser humano, particularmente em crianças e adolescentes (GIFONNI, 2015. s. 5)”. De acordo com o Ministério da Educação e Cultura- MEC, o ato de educar deve estar associado ao cuidar para que a busca do conhecimento ocorra de maneira progressiva e qualitativa. O MEC evidencia ainda que, a não separação entre a educação e cuidado precisa permear todo o projeto político pedagógico de uma creche ou pré-escola, pois, as experiências adquiridas no decorrer do processo, oportunizam o acesso ao conhecimento que na maioria das vezes permeia o futuro de uma pessoa.

Vários teóricos avaliam que o processo da socialização, especialmente para as crianças menores de cinco anos, se apresenta através do “brincar” e que é, a partir das brincadeiras, que as crianças expressam o que sentem e pensam sobre o mundo de uma forma própria. De acordo com Vygotsky (1896-1934) “O brincar é uma atividade humana criadora, na qual imaginação fantasia e realidade interagem na produção de novas possibilidades de interpretação, de expressão e de ação [...] (BORDA, 1987, p.35)”. Henri Wallon (1879 -1962) apresenta em sua teoria pedagógica que o desenvolvimento intelectual está além de um simples cérebro, considerando afeto e movimento como os processos básicos para o desenvolvimento, dando a brincadeira um valor hegemônico, pois, é através dela, que a criança expressa suas emoções. Também nos estudos de Jean Piaget (1896-1980) encontra-se a ludicidade como sendo uma ferramenta pedagógica que exerce função fundamental para o desenvolvimento da criatividade, iniciativa e autonomia da criança além da apropriação dos saberes deixado historicamente pela humanidade.

De acordo com Samia et als (2013), a brincadeira exerce um fator extremamente importante para o desenvolvimento da criança, fazendo-se portanto, necessário, priorizar espaços e momentos específicos nas instituições de Educação Infantil, para que a criança brinque livremente e tenha, ainda, brincadeiras dirigidas pelos profissionais envolvidos.

Toda criança tem direito a brincar. Este direito é tão fundamental que foi incluído na Declaração Universal dos Direitos da Criança, da Organização das Nações Unidas (ONU), em 1959, e reiterado em 1989, quando a ONU adotou a Convenção sobre os Direitos da Criança (CDC), a qual declara no artigo 31: a criança tem direito ao descanso e lazer, ao divertimento e às atividades recreativas próprias da idade, bem como à livre participação na vida cultural e artística. (SAMIA et als ,2013, p.7).

Percebe-se que a criança apropria-se da sua realidade atribuindo-lhe significado, através das brincadeiras que serão oferecidas e estimuladas dentro da proposta curricular. Portanto, é através do “brincar” que o professor terá oportunidade de inserir conhecimento histórico, artístico e cultural de forma lúdica sem que o aluno perceba diretamente o que será estudado. “[...] a brincadeira é a atividade objetiva que constitui a base da percepção que a criança tem do mundo e dos objetos do mundo, motivo pelo qual ela própria é quem determina o conteúdo da brincadeira” (MELO; TEIXEIRA, 2013. p 48). Logo, entende-se que o “brincar” é vantajoso no quesito aprendizagem, visto que, alunos com dificuldade de aprendizagem podem e devem valer-se da brincadeira como processo facilitador para o seu desenvolvimento. De acordo com a Associação Brasileira de Psicologia Escolar e Educacional (ABRAPEE) “psicólogos escolares e educacionais são profissionais que atuam em instituições escolares e educativas [...] visando compreender as dimensões subjetivas do ser humano”, explicitam ainda que:

Algumas das temáticas de estudo, pesquisa e atuação profissional no campo da psicologia escolar são: processos de ensino e aprendizagem, desenvolvimento humano, escolarização em todos os seus níveis, inclusão de pessoas com deficiências, políticas públicas em educação, gestão psicoeducacional em instituições, avaliação psicológica, história da psicologia escolar, formação continuada de professores, dentre outros. (ABRAPEE)

Embasados pelas teorias e orientações citadas, buscou-se realizar um trabalho de observações no âmbito escolar, almejando conhecimento prático e interação com o espaço educacional, indispensável à atuação do psicólogo.

 

O ESTÁGIO

Durante o primeiro semestre do ano de 2015, alunos do curso de Psicologia do Centro Universitário de Belo Horizonte UniBH-Estoril, participaram das atividades ocorridas nas tardes das quintas-feiras na Unidade Municipal de Educação Infantil UMEI-Luxemburgo, que é sediada pela Escola Municipal Professor Mestre Paranhos localizada no bairro Santa Maria em Belo Horizonte.

Através da supervisora, foram apresentadas, ao grupo de estagiários, as normas escolares, as formas de interação da escola com responsáveis e alunos, a organização dos espaços e tempos na escola, atuação nas relações interpessoais e o Projeto Político Pedágio (PPP). Tais informações foram cruciais para a compreensão do trabalho que a UMEI aplica no âmbito

escolar que a consagra, na atualidade, como sendo modelo de ensino-aprendizagem para as crianças na idade de 0 à 5anos e 8meses.

Através dos documentos disponibilizados pela coordenação observou-se que a missão da UMEI é oferecer um ensino com qualidade por meio de profissionais qualificados dispostos a garantir a satisfação e o atendimento aos requisitos da demanda, visando à formação de sujeitos que se apossem dos seus direitos e cumpram seus deveres. Toda a equipe apresenta as competências exigidas para o cargo que ocupa na sede, sendo os docentes graduados em pedagogia ou especificamente formados na Educação Infantil. Para Vianna; Finco (2009), A educação infantil (creche e pré-escola), como primeira etapa da Educação Básica, marca o início da experiência discente, quando as crianças terão oportunidade de conviver em um grupo social mais amplo, em uma instituição com características diferentes das do meio familiar. Essa etapa é palco de inscrições intelectuais, sociais e psicológicas.

O acompanhamento em salas de aula foi fundamental para a conclusão - através das discussões elaboradas entre os estagiários do UNIBH, com a finalidade de dividir informações - de que a aprendizagem na UMEI é sempre conduzida pelo “brincar” decorrendo para o propósito da socialização e superação de empecilhos e indo de encontro à ideia proposta pelo projeto que a subsidia. Dessa maneira, constata-se que o ensino-aprendizagem é aplicado através das brincadeiras que são elaboradas pelos professores que utilizam de brinquedos, fantoches, reciclados, tintas, massinhas e emborrachados, despertando nas crianças, a criatividade e a socialização. Profissionais e alunos na UMEI, mantêm uma relação próxima e confiável. Pesquisas, anteriormente realizadas, apontam a importância dessa interação. Silva (2012) confirma;

[...] as brincadeiras são apropriadas, multiplicadas, vivenciadas e/ou permitidas às crianças de qualquer contexto social, gênero e faixas etárias; ao mesmo tempo, brincar é também uma característica da criança, experimentada autonomamente ou construída na relação com seus pares (crianças e crianças; crianças e jovens e crianças e adultos), influenciados pela estrutura de rede social (família, igreja, associações, escolas, projetos...), processos educativos e acesso a bens materiais e culturais.

É também através do “brincar” que a UMEI fomenta a inclusão das crianças com Necessidades de Educação Especial (NEE), de forma cotidiana e despretensiosa, agregando valores através da tolerância e respeito por todos.

 

CONCLUSÃO

Participar do cotidiano na UMEI foi lançar, na prática, as teorias discutidas em paralelo na sala de aula durante o semestre decorrente do estágio. O desenvolvimento social visto teoricamente foi constatado a partir das relações que eram estabelecidas entre crianças e adultos que formam a equipe da unidade. Assim, observamos que o processo de ensino-aprendizagem se constitui dentro das interações sociais propiciadas às crianças e seus familiares. Refletir sobre a importância das brincadeiras foi um fator significativo para a compreensão das representações sociais construídas desde muito cedo na vida humana. As crianças se expressam através dos movimentos, dos olhares e falas e a interação com os adultos, estimula-as não só na apropriação da linguagem, mas também na sua expansão, possibilitando, assim, a elaboração de sentidos particularizados, que dependem da vivência infantil e da obtenção de significados mais objetivos e abrangentes.

A responsabilidade da equipe para com as crianças é de agregação dos valores para que se tornem pessoas livres de influencias e conduções externas e que consigam ter a capacidade de pensar e examinar criticamente as ideias que lhes são apresentadas dentro da realidade social que partilham. Para tanto, usam de estímulos como: brincadeiras, passeios culturais e ecológicos, além de incentivarem a representação do eu em peças teatrais organizadas pela equipe de trabalho, buscando dessa forma, que a criança opere com ideias e possa discuti-las numa troca de diálogo com o outro enquanto constrói o seu ponto de equilíbrio para um pensar competente e comprometido com determinadas práticas sociais. Isso comprova que a experiência da brincadeira na UMEI é oferecida como um fenômeno cultural e não apenas como um ato sem fundamento, contemplando para o fato de que as crianças percebem o mundo através das experiências que adquirem enquanto brincam e interagem com outras crianças e com os adultos. A conclusão do estágio na UMEI proporcionou aos estagiários uma ampliação na visão de construção de valores e respeito, além de abarcar que o adulto deve sim, orientar as crianças, mas permitindo-lhes sempre a liberdade de construir seu próprio caminho.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ABRAPEE - Associação Brasileira de Psicologia Escolar e Educacional. O Psicólogo Escolar. Disponível em: < https://abrapee.wordpress.com/sobre/o-psicologo-escolar> Acesso em 29 jun. 2015.

Brasil. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão. Conselho Nacional da Educação. Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais da Educação Básica/ Ministério da Educação. Secretária de Educação Básica. Diretoria de Currículos e Educação Integral. – Brasília: MEC, SEB, DICEI, 2013. 542p. Educação Básica. Diretrizes Curriculares.

BORBA, Ângela Meyer. O brincar como um modo de ser e estar no mundo. In: Brasil MEC/ SEB. Ensino fundamental de nove anos: orientações para a inclusão da criança de seis anos de idade/ organização Jeanete Beauchamp, Sandra Denise pagel, Aricélia Ribeiro do Nascimento. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica, 2007.

GIFFONI. A escola como instituição, relações de poder e liderança na escola e na sala de aula. Estágio Básico Curso Psicologia Unibh, 2015. Giffoni. 22 slides, color. Slides gerados a partir do software PowerPoint. Acompanha texto.

MELO, Rogério Barata; TEIXEIRA, Régia Lúcia. A arte de brincar: Metodologias para a arte educação. Maiêutica - Ano 1. Número 1. Janeiro 2013 51 pg.

SAMIA, Monica Martins et als. Assim se brinca / Instituto C&A e Avante: Educação e Mobilização Social; textos de Fabiane Brazileiro…[et. al] ; ilustração de Santo Design. 2. Ed. Barueri, SP: Instituto C&A, 2013. Coleção paralapracá. Série cadernos de orientação. 30 pg.

SILVA, Leonardo Toledo. As crianças e o brincar em suas práticas sociais: o Aglomerado da Serra/BH como contexto de aprendizagem. 2012. 122 f. Dissertação (Mestrado em Lazer) Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional, Universidade Federal de Minas Gerais, 2012

VIANNA, Claudia; FINCO, Daniela. Meninas e meninos na Educação Infantil: uma questão de gênero e poder. Cad. Pagu [online]. 2009, n.33, pp. 265-283. ISSN 0104-8333. Disponível em Acesso em: 29 jun. 2015.UMEI