OS PRINCIPAIS PENSADORES EXISTENCIALISTAS

 
“Um pensamento essencialmente religioso é a defesa da existência do indivíduo, existência que só se torna autêntica diante da transcendência de Deus”. (Søren Aabye Kierkegaard 1813-1855)

INFLUÊNCIAS DA VIDA DE KIERKEGGARD EM SUA OBRA.

 
O que Kierkegaard escreveu certamente está relacionado com sua aprendizagem de vida e com tudo o que determinou sua educação. De acordo com Jazen e Holanda (2012), para a compreensão da obra de Kierkergaard, não é necessário ser cristão, mas é imprescindível considerar o local de onde tais palavras foram retiradas. As influências da vida em sua obra são demonstradas sob um aspecto da existência de um ponto de vista diferente, representadas através de pseudônimos variados como um existir individual e singular, expondo que cada sujeito pode escolher uma verdade para acreditar. Explicam;
 
 
Há, pois, um sentido “estético” para cada pseudônimo, mas igualmente um sentido “psicológico” para cada um deles, cada qual sendo um modo de apresentação de si ao mundo, de diferentes formas, como facetas de uma múltipla personalidade. [...] Cada uma de suas obras é elaborada de acordo com um dos três estágios da existência humana, permitindo ao autor alcançar pessoas de todos os estágios. (JAZEN; HOLANDA 2012, p.15)
 
 
Explicam que Kierkeggard não escreveu sobre o mundo, nem elaborou explicações sobre ele, preocupou-se com a vida humana, com a existência e com o ser-existente. Sob uma forte influência religiosa advinda do pai, defendia que, ser cristão era a forma por excelência de existir, considerando essa, a maneira autêntica de ser. Os autores concordam que cada pseudônimo não foi somente uma mera criação intelectual. Eles estavam relacionados com acontecimentos e experiências e foram reflexos da própria subjetividade de Kierkegaard.
 
Quando Kierkegaar utilizava seu próprio nome, escrevia de um ponto de vista religioso, com o qual seu falecido pai concordaria se valendo do ponto de vista cristão pelo qual ele poderia se responsabilizar. Tanto é que, dedicou esses dezoito discursos ao seu pai (JAZEN; HOLANDA 2012 apud BRANDT, 1963).
 
Para os autores, Kierkegaard propôs a noção de que a verdade está na subjetividade, que a existência verdadeira é alcançada pela intensidade do sentimento, sendo essa verdade, a maior influência nas suas obras, já que defendia que vida e verdade eram similares, ou seja, aquilo que se acredita é aquilo que se vive, tomando isso como premissa.
 
Isso nos remete à concepção de subjetividade, de sujeito existencial. “Esse ponto de vista inclui a noção de que o homem é superior à espécie, bem como a ideia de que a verdade está na subjetividade, e remete a uma ideia de homem, que merece explicitação.” (JAZEN; HOLANDA 2012, p.12).
 
 
Os autores afirmam que Kierkegaard colocava o homem como sendo o definidor da sua existência, e o considerava subjetivo, e por isso, todas as obras têm um mesmo olhar.
 
Os livros que Kierkegaard escreveu podem ser lidos como expressões do existir, que encontram paralelos com sua vida pessoal, embora não se tenha acordo com respeito a essa questão. Mas certamente podem ser compreendidos como metáforas que refletem a vida em si, ou seja, a própria existência. (JAZEN; HOLANDA 2012, p.10).
 
 
ESTÁGIOS DA EXISTÊNCIA, PROPOSTOS POR KIERKEGAARD.
Para Jazen e Holanda (2012), Kierkegaard mergulhou no ser humano, aprofundando até o último sentimento, sendo possível nessa busca então, especificar três diferentes estágios, demarcando cada um com suas características individuais e como um possível funcionamento do indivíduo.
 
Mesmo sendo igual o conceito e a universalidade do homem, a forma pela qual ele irá exercer o seu espírito, o seu eu, diferencia-se, de acordo com a atitude perante a vida. Essa diferenciação gerou o que Kierkegaard denomina de estágios. (JAZEN; HOLANDA. 2012 p.13)
 
São então, esses três estágios demarcados por Kierkegaard que delineiam o agir do indivíduo; o estágio estético, o ético e o religioso:
 
No estágio estético, o que prevalece é o “agora”. O homem vive de imediatismo. Não há compromisso com o outro, sendo essencial para a vida apenas o prazer.
 
Kierkegaard escreveu deste ponto de vista quando usou o pseudônimo Johannes, o Sedutor, no livro Diário de um Sedutor, contendo cartas à sua noiva. Outro esteta é o “Esteta A” da obra Ouou, um jovem que está cansado na vida, melancólico e aparentemente sem futuro, que, ocasionalmente, vivencia momentos de beleza. Esse “Esteta A” é referência à própria vida de Kierkegaard quando este estava em sua juventude (JAZEN; HOLANDA, 2012, p 13 apud BRANDT, 1963).
 
De acordo com os autores, Kierkegaard apresenta o estágio estético como sendo uma maneira do indivíduo se iludir, já que, possibilita os prazeres sem restrições para um plano imediato, desconsiderando que a angústia está presente na humanidade e que as respostas imediatas e vazias causam um maior desconforto posterior.
 
Já, o estágio ético, é representado pelas escolhas entre o bem e o mal. Nele prevalece a responsabilidade e o dever, considerando o casamento como obrigação. Para o homem ético, sempre existe a preocupação, pois, sua vida tem uma continuidade histórica e por isso as normas ocupam um lugar importante nas escolhas e ações do ser humano, já que o homem sempre assumirá as consequências das suas atitudes.
 
 
Jozen e Holanda (2012) exemplificam esse estágio identificando o juiz Wilhelm - personagem da obra Ou-ou (1843) de Kierkegaard - como sendo um homem ético, defensor do casamento, que implica em compromisso e moralidade. Citam ainda que;
 
O estágio ético “[...] se trata a priori de um saber unitário e de uma vida coerente governada por normas morais”. “[...] é reconhecível massivamente pela organização material da existência segundo as normas universais da moral.” (JOZEN; HOLANDA, 2012 p.14 apud MESNARD 1986).
 
Contudo, os autores concluem que o homem ético corre o risco de se perder de si, tendo em vista que atender todas as solicitações impostas pelas regras morais não é o suficiente para a construção de uma existência idealizada sem erros e imperfeições, o que o torna incapaz de abranger a subjetividade humana tão buscada no estágio ético.
 
No estágio religioso o homem tem suas atenções voltadas para a espiritualidade, investindo fervorosamente numa vida religiosa e humilde, já que a vida terrena é breve e insignificante quando comparada com a vida eterna. Jazen e Holanda (2012) caracterizam esse estágio como sendo uma profunda relação com Deus. “Enquanto que o esteta vive no momento e o ético vive no tempo, o religioso vive com sua atenção voltada ao eterno.” (JAZEN; HOLANDA, 2012, p.15 apud BRANDT, 1963). Exemplificam:
 
No livro Temor e Tremor o estágio religioso é comentado pela primeira vez. Nele, Kierkegaard demonstra que o plano moral não é o absoluto, por meio da história do sacrifício de Abraão (demonstrando assim um plano religioso acima do plano moral). Tal como Abraão foi restituído de seu filho quando demonstrou que estava disposto a sacrificá-lo devido às ordens divinas, existia a possibilidade de Kierkegaard recuperar a noiva que havia perdido, visto que ele a abandonou em prol de seu chamado divino de ser um escritor (JAZEN; HOLANDA, 2012, p.15 apud MESNARD, 1986).
 
Segundo os autores supracitados, Kierkegaard afirmava o corpo como sendo temporal (finito) e a alma eterna (infinita), sendo ambos, equilibrados pelo espírito (eu). Esse terceiro seria considerado por Kierkegaard o ponto de ligação capaz de reconhecer as duas partes existentes no humano.
 
O homem é indivíduo e, assim sendo, é ao mesmo tempo ele mesmo e toda a humanidade, de maneira que a humanidade participa toda inteira do indivíduo, do mesmo modo que o indivíduo participa de todo o gênero humano. (JAZEN; HOLANDA, 2012, p.16 apud KIERKEGAARD, 1968).
 
Jazen e Holanda (2012) concluem que, o homem se ilude ao acreditar que a vida religiosa o exime das convocações do mundo, porque o corpo se encontra preso a terra, sujeito as interferências e as necessidades mundanas. Os autores encontram amparo em pesquisas para afirmarem que o “estágio religioso é o apelo à subjetividade profunda, a devoção ao Deus escondido, e o silêncio que daí advém”. (JAZEN; HOLANDA, 2012, p.15 apud MESNARD, 1963).
 
Assim, os autores explicam que é importante observar esses estágios como possibilidades subjetivas existenciais e com perspectivas diferenciadas. Segundo os autores, Kierkegaard não pretendia estudar o homem nem tão pouco desvendar a essência do mundo, ele acreditava apenas em uma “expressão da existência” a qual, ele se entregou apaixonadamente e fervorosamente.
 
 
 
 
 
O que vale não é o quanto se vive, mas como se vive.
(Martin Heidegger 1889 -1976)

NOÇÃO DE EXISTÊNCIA PARA HEIDEGGER

 
Segundo Barbosa (1998), a noção de ser no mundo foi desenvolvida sistematicamente pelo filósofo alemão Martin Heidegger no tratado Ser e Tempo (Sein und Zeit), de 1927. De acordo com o autor, Heidegger em sua obra, se impõe a tarefa de recolocar a questão do "sentido do ser", que para ele foi esquecida pela metafísica tradicional.
 
A investigação fenomenológica de Heidegger é de caráter ontológico, isto é, busca as determinações essenciais do ser dos entes. Dessa maneira, pretende sempre situar-se aquém do plano empírico ou ôntico (dos entes) e constituir-se na condição de possibilidade do mesmo. (BARBOSA, 1998, p. 2)
 
Barbosa (1998) acrescenta que esse esquecimento aconteceu em virtude de a tradição metafísica ter se transformado numa ontologia substancial, visualizando o ser geralmente a partir da “coisa”, tornando a "coisa", como paradigma de representação para tudo o que "é".
 
A ideia de ser no mundo explicita então o fato de que o "ser que é" se constitui enquanto quem de uma existência humana no mesmo movimento em que um mundo se constitui enquanto mundo, isto é, enquanto mundo para esse ser que nele é. Não há sentimento, comportamento ou qualquer outro modo de ser de uma pessoa que exista isoladamente, como um fenômeno "em si". (BARBOSA, 1998, p. 2)
 
Ainda para o autor, essa afirmação nem sempre é assumida em suas “consequências últimas” já que esses fenômenos podem pretender ocupar o lugar de causa primeira, pois a causa primeira é o ser no mundo. O autor exemplifica que a angústia do ser humano não se divide entre o interior e o exterior, mas que a pessoa se angustia na totalidade, influenciada pelo mundo angustiado.
 
E por "o mundo" não se quer aludir necessariamente ao mundo enquanto "vastidão", mas à região do mundo abarcada pelo fenômeno em causa - "mundo" significa aqui o polo dessa união indiscernível que o ser-no-mundo busca evidenciar, e que pode ser a depender da região de “consciência" envolvida, um mundo extremamente "pequeno". (BARBOSA, 1998, p. 2)
 
Barbosa (1998) afirma que para Heidegger, a relação primeira com o mundo não se dá por nenhuma forma de conhecimento. Ela acontece através do contato real "que vêm ao encontro dentro do mundo", "com instrumentos, e esse modo de ser-em é denominado ocupação”. (BARBOSA, 1998, p. 2 apud BESORGEN). Afirma ainda que, o que Heidegger considera instrumento são todos os objetos utilizados pelo homem e tudo com que ele se depara no mundo, assumindo um sentido dentro dele. Heidegger utiliza o termo ente para indicar a “existência” que é o Dasein, que é nós mesmos. Esse conceito de existência subdivide-se em duas noções fundamentais: o “fazer-se a si mesmo” e a “facticidade”.
 
Para Barbosa (1998), fazer-se a si mesmo diz respeito ao caráter da existência de projeto inacabado e inacabável. Assim, o Dasein não tem um ser anterior à existência, ele é pura possibilidade. Como tal, o Dasein, que somos nós mesmos, é sempre forçado a fazer-se a si mesmo, fazendo, à medida que existe seu próprio ser. Por isso, pode-se dizer que ele é projeto inacabado. No entanto, essa busca pelo próprio ser que o Dasein empreende não pode ser terminada. O Dasein é jogado no mundo para buscar seu próprio ser, um ser que ele não é e nunca será. Assim, entende-se por que o Dasein é projeto inacabável.
 
O autor explica que esse aspecto da existência coloca o Dasein num modo de ser radicalmente distinto dos outros entes. Usando uma pedra como exemplo, afirma que ela não tem uma essência, pois já nasceu pronta, sem a necessidade da essência, sem a preocupação de fazer. Definir “ser” implica, dessa forma, em transformá-lo em um “ente” (algo concreto) “a pedra já é”, e aí termina a lógica do ser universal. Não pode existir um ser sem “ente”. O Dasein não é assim. Após nascer, é necessário buscar seu próprio ser. E isso seria o que Heidegger considerou “fazer-se a si mesmo”, propício apenas ao homem.
Para Barbosa (1998), “facticidade” que é o segundo ponto considerado por Heidegger, trata-se, basicamente de dizer que, não há algo além da existência. O ponto de referência último que se tem é a existência e que, não se pode explica-la com base em algo anterior. Afirma ainda que Heidegger considerava as características constitutivas do Dasein como sendo sempre modos possíveis de ser, e somente isso.
 
Um dos pressupostos fundamentais da analítica da existência é que a existência se manifesta ao Dasein, sendo sempre primeiramente concernente ao Dasein mesmo, à sua compreensão, que se coloca para o ser-ai antes de qualquer teorização ou horizonte teórico, num nível pré-ontológico. (DUARTE; NAVES 2010, p. 67)
 
Dessa maneira, as duas facetas apresentadas – do fazer-se a si mesmo e da facticidade – completam a noção de existência do Existencialismo, permitindo entender por que, para os que adotam essa corrente filosófica, só o ser humano existe. “A compreensão dessa unidade fundamental do “ser no mundo” se revela de muita valia para a Psicologia, pois a atitude científica muitas vezes se debate para explicar o modo complexo de relacionamento entre certas "coisas" que ela mesma cuidou de separar.” (BARBOSA, 1998, p.4).
 
 
 
DEFINIÇÃO DE DASEIN COM A IDEIA DE SER-PARA-MORTE, NA FILOSOFIA DE HEIDEGGER.
 
O Dasein é um ente privilegiado porque é capaz de questionar o ser, e possui uma compreensão do ser. Ele existe imediatamente em um mundo. Ou seja, Dasein é o homem na medida em que existe na existência cotidiana, junto com os demais entes em seus afazeres e preocupações. Porém, para investigar o Dasein, enquanto possuidor perene de uma compreensão do ser, impõe-se uma analítica existencial, que tem como tarefa explorar a conexão das estruturas que definem a existência do Dasein, a saber, os existenciais. (DUARTE; NAVES 2010, p. 66)
 
De acordo com Duarte e Naves (2010) o homem em sua estrutura existencial é um ser-no-mundo, inautêntico propício às angustias, às contemplações de toda sua estrutura existencial, além de ser temporal e um ser-para-a-morte. “A temporalidade é revelada na mortalidade inevitável, uma condição existencial impossível de evitar.” Dessa forma, cada Dasein completará seu curso existencial, encontrando consequentemente a morte.
 
Os autores acordam que, o “ser-ai” é lacunoso, numa eterna busca do seu complemento. Não lhe bastando apenas o presente, por isso, estende-se temporalmente para um fim na morte, considerando a vida até seu término como a plena realização, comparada a um fruto que cresce e chega ao sazonamento.
 
Segundo Duarte e Naves (2010), uma das maneiras para se entender a morte, seria uma analogia às mortes alheias, aplicando essa experiência ao seu próprio caso. Mas, a morte dos outros é o fim dos outros, o que limita esse entendimento subjetivo já que, “[...] em sentido genuíno, não fazemos a experiência da morte dos outros, no máximo, estamos apenas ‘junto’.” (DUARTE; NAVES 2010, p.77 apud HEIDEGGER, 1997, p. 19).
 
De acordo com Duarte e Naves (2010), Heidegger sugere que para o Dasein compreender a totalidade de sua existência se faz necessário considerar a morte como uma certeza indefinida possível de acontecer a qualquer instante e, assumindo essa realidade, o homem defronta-se com as expectativas e as possibilidades para um momento seguinte. “[...] cada momento da existência é afetado por morte, ou pelo ser-para-morte” (DUARTE; NAVES 2010, p. 78 apud ZEIN ZUM TODE). O ser-aí é essencialmente finito.
 
Assim, convicto da certeza finita, o homem é capaz de encará-la como sendo um fato inevitável, trabalhando seu interior para tudo o que engloba esta condição ou, exatamente por ser livre, se tornar indiferente, interrompendo uma gama de possibilidades que estavam por vir.
 
Esta vivência na cotidianidade, no inautêntico, se dá devido ao medo que tem o Dasein de pensar a inexistência, de experienciar a angústia; isso conduz a um envolvimento com os objetos, com os instrumentos corriqueiros que os ‘engole’, não permitindo um confronto consciente com seu destino mais próprio: a morte. (DUARTE; NAVES 2010, p.79)
 
Dessa maneira, a existência não é algo linear, com trajetórias traçadas seguindo passivamente o caminho para a morte, ela é, antes de tudo, uma gama de possibilidades que serão interrompidas surpreendentemente com a chegada do fim. Para Duarte e Naves (2010), é a constatação desse percurso que tranquiliza o Dasein e o mantém anestesiado perante a morte.
 
Diante do ser-para-a-morte o Dasein é impulsionado a decidir-se perante as demais possibilidades que se apresentam a ele, ou seja, escolher qual maneira de existir, pois ao chegar á morte, toda possibilidade será definitivamente retirada sejam elas quais quer que sejam. [...] O homem que se defronta com a morte em consequência da angústia, na qual se encontra, decide assumi-la, torna sua existência autêntica e compreende o destino que está dando no presente, ao seu existir. (DUARTE; NAVES 2010, p.79)
 
De acordo com os autores, a existência do “ser-para-morte”, é o intervalo de tempo que constitui o ser-no-mundo, sendo possível apenas ao "ser-ai” dar o devido sentido à sua existência, dentro deste período histórico. O que torna o Dasein, o único responsável pelo projeto autêntico da sua vida.
 
 
 
 
A descoberta da minha intimidade desvenda-me, simultaneamente, a existência do outro como uma liberdade colocada na minha frente, que só pensa e só quer ou a favor ou contra mim. (Jean-Paul Sartre 1905 - 1980)

LIBERDADE E ANGÚSTIA APRESENTADA POR SARTRE.

 
De acordo com Sartre (1970), a escolha valoriza o que esta sendo escolhido, e por isso, o homem sempre optará pelo bem, o que atingirá diretamente os demais. Já que a existência precede a essência, essa escolha moldará uma imagem que será considerada válida para todos e para uma época, tornando o homem responsável não só pelos seus atos, mas também pelo reflexo que será causado em toda a humanidade. Mas, diferente de “querer ser”, pois isso refletiria numa decisão consciente; o homem é apenas aquilo que ele “projetou ser”, sendo livre em suas escolhas, portanto, o único responsável pela sua existência.
 
 A esse fato, Sartre considerou o primeiro significado do existencialismo. No entanto, o homem vê-se incapaz de ultrapassar os limites da subjetividade humana, e esse segundo significado constitui a angústia, que é o real sentido do existencialismo.
O homem é tão-somente, não apenas como ele se concebe, mas também como ele se quer; como ele se concebe após a existência, como ele se quer após esse impulso para a existência. O homem nada mais é do que aquilo que ele faz de si mesmo: é esse o primeiro princípio do existencialismo. É também a isso que chamamos de subjetividade. (SARTRE, 1970, p.4)
 
Sartre discorda da existência divina que exime o humano de suas responsabilidades, e por isso o existencialista declara o homem composto de angústias “O homem que se engaja e que se dá conta de que ele não é apenas aquele que escolheu ser, mas também um legislador que escolhe simultaneamente a si mesmo e a humanidade inteira, não consegue escapar ao sentimento de sua total e profunda responsabilidade (SARTRE, 1970, p.5)”. Sartre considera essa angústia inerente ao homem responsável, pois esta ligada diretamente aos outros homens que também estão engajados pela escolha como parte constitutiva da própria ação. E se a existência precede a essência, o homem é livre, o homem é liberdade, sendo o criador das suas leis e o seu propagador pela humanidade.
 
[...] se Deus não existe, não encontramos, já prontos, valores ou ordens que possam legitimar a nossa conduta. Assim, não teremos nem atrás de nós, nem na nossa frente, no reino luminoso dos valores, nenhuma justificativa, nenhuma desculpa. Estamos sós, sem desculpas. É o que posso expressar dizendo que o homem está condenado a ser livre. Condenado, porque não se criou a si mesmo, e como, no entanto, é livre, uma vez que foi lançado no mundo, é responsável por tudo o que faz. (SARTRE, 1970, p.5)
 
Ainda de acordo com Sartre (1970) o homem, sem apoio e sem ajuda, está condenado a inventar o homem a cada instante, sendo que, a angústia acontece quando o homem se percebe responsável por suas escolhas e o único capaz de conduzir a própria vida.
 
 
 
 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

 
Pode-se observar que, Kierkegaard tratou a angústia de maneira subjetiva, dando total atenção ao dogma do pecado original, afirmando que a angústia aparece ante a possibilidade da liberdade, educando o homem a esta possibilidade. Por sua vez, Heidegger demonstrou a relação da angústia com a experiência do homem ante a finitude de sua existência e sua incessante tentativa de se livrar desse encerramento, perdendo-se assim, no cotidiano e no inautêntico, enquanto Sartre apresentou a liberdade como algo que não surge quando o homem se suspende dentro do nada através da angústia, mas sim, quando o homem como “ser”, que traz o nada ao mundo pela interrogação, vê-se como “ser livre”.
 
Sendo possível então perceber que, a subjetividade é uma semelhança apresentada pelos filósofos ao tratarem a angústia como sendo a liberdade de escolha e também a principal munição para o desenvolvimento pessoal, o ponto de partida para o encontro de si mesmo, como uma pessoa que procura um significado para a sua existência. E essa é a contribuição do Existencialismo à Psicologia.
 
 
 

 

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 
BARBOSA, Márcio F. A noção de ser no mundo em Heidegger e sua aplicação na psicopatologia. Psicologia: Ciência e Profissão, 1998, vol.18, n. 3, ISSN 1414-9893.disponível em: acesso em: 24 nov. 14
 
DUARTE, Rodrigo; NAVES, Gilzane. O ser-para-a-morte em Heidegger. Revista Católica, Uberlândia, v. 2, n. 4, p. 64-82, 2010. Disponível em: Acesso em: 24 Nov 14
JANZEN, Marcos Ricardo; HOLANDA, Adriano. Elementos para uma psicologia no pensamento de Søren Kierkegaard. Estud. pesqui. psicol., Rio de Janeiro, v. 12, n. 2, p. 572-596, 2012. 573. 1 Disponível em: Acesso em: 24 Nov 14
 
SARTRE, Jean Paul. O Existencialismo é um humanismo. Tradutora Rita Corrêa Guedes. Fonte: L’ Existencialisme est um humanisme, Les Editions Nagel, Paris, 1970. Disponível: < https://stoa.usp.br/alexccarneiro/files/-1/4529/sartre_exitencialismo_humanismo.pdf> Acesso: 24 Nov 14