Como Enlouquecer Seu Chefe                                                

Resumo

O filme - COMO ENLOUQUECER SEU CHEFE - “Office Space”, foi lançado em 1999 e dirigido por Michael Craig Judge, ator e escritor que nasceu no dia 17 de outubro de 1962, em Guayaquil, Equador. Em seus trabalhos destacam-se filmes de comédia. É conhecido pela criação das séries "Beavis & Butt-Head" e "King of the Hill". No elenco estão os atores: Ron Livingston (Peter Gibbons); Jennifer Aniston (Joanna); Diedrich Bader (Lawrence); Gary Cole (Bill Lumbergh); Stephen Root (Milton Waddams); Ron Livingston (Peter Gibbons); David Herman (Michael Bolton); Ajay Naidu (Samir Nagheenanajar) entre outros.

A história se passa no Vale do Silício na Califórnia, num cenário empresarial que expoe o dia-a-dia de funcionários exaustos e robotizados. Peter Gibb (Ron Livingston) é um programador de computadores com a função de revisar milhões de linhas de código.  Constantemente é intimidado pelas atitudes de Gary Cole (Bill Lumbergh), o vice-diretor da renomada empresa de softwares “Initech Corporation”. Insatisfeito com a forma como tem “levado sua vida”, recorre à hipnose na esperança de não se sentir entediado enquanto se dedica ao trabalho.

O desfenrolar da história se dá quando, na sessão hipnótica, Peter Gibb é condicionado ao relaxamento sendo eximido de todas as preocupações com o trabalho, podendo voltar ao estado normal só após ouvir o estalo dos dedos do hipnotizador que, acaba falecendo com um infarto fulminante. Impossibilitado de sair da forma hipnótica, o jovem não mais cumprirá horários, tampouco realizará o serviço que lhe fora determinado. Espantoso é que, tais atitudes lhe rendem respeito, valorização e promoção; exatamente num período de demissões e racionamento de despesas na empresa.

Além de Peter Gibb, serão apresentados os amigos Michael Bolton (David Herman) e Samir Nagheenanajar (Ajay Naidu) que compartilham da mesma insatisfação no trabalho, mas resistem por acreditar que possuem o emprego que lhes proporcionará segurança e futuro tranquilo. No entanto, após descobrirem que serão demitidos, unem-se a Peter Gibb e desenvolvem um plano para retirar da empresa o que acreditam ser de direito após toda dedicação e fidelidade e nenhum reconhecimento.

Entre os personagens, convém destacar Joanna (Jennifer Aniston), que é funcionária de uma lanchonete e se torna a namorada de Peter Gibb. A garota se submete a usar broches que contrariam sua imagem, e, embora disposta a se adequar as regras da empresa, Joanna é constantemente constrangida pelo seu superior que exige que ela use uma quantidade maior de botons no uniforme. Contagiada pela decisão de Peter Gibb em não se sujeitar as regras impostas por aqueles que sempre anulam a personalidade alheia, Joanna decide pedir demissão e recomeçar num novo emprego.

Após toda confusão típica de um filme de comédia, o plano elaborado por Peter Gibb e os amigos termina frustrado e eles são obrigados a seguir caminhos diferentes. A empresa terminará em chamas provocadas por Milton Waddams (Stephen Root), o personagem que sempre anunciava suas intenções e nunca era ouvido. 

 

Resenha

Ainda que o filme tenha um perfil cômico, Michael Judge sublima uma crítica à alienação e anulação da identidade dos trabalhadores. Realça, em todos os personagens, a insatisfação da execução do ofício destinado e retrata, perfeitamente, como o labor se torna tedioso para o empregado que é reduzido a produções de tarefas fatigantes. A história vai ao encontro do ‘fazer por fazer’, que revoga a energia destinada à relização das tarefas, fato que determina, ao tédio, o poder de controlar a vida dos sujeitos - como pode ser observado pela tentativa de Peter Gibb em se anestesiar para suportar seu dia-a-dia. O cotidiano das empresas traz essa marca. O funcionário é submetido a insignificância provocada pela aniquilação das suas ideias e, de alguma forma, também se anula para suportar a estadia empresarial. A alienação cumpre bem a sua tarefa e o empregado atenua-se a todas as normas que são desenvovidadas com a função de reduzir sua vida ao âmbito profissional.        

De acordo com Morin (2001) o trabalho traz importantes nuanças para o desenvolvimento humano. Carrega em si, a possibilidade da realização do homem como ser social através de autonomia, prestígios, segurança emocional e financeira, valorização e organização do tempo. O trabalho também proporciona a produção que dará a sensação de utilidade, acartando ao homem, o desejo de manter-se vivo. Portanto, é preciso considerar a importância do trabalho.

Entretanto, o filme apresenta pessoas insatisfeitas e desmotivadas numa total devastação de subjetividade, exploração trabalhista, intimidações, abusos de autoridade, indiferença ao bem-estar pessoal, assédio moral, substimação dos funcionários, prevalência de normas favoráveis à empresa. Em analogia ao filme, pode-se observar que, embora conscientes de suas posições degradadoras, os funcionários permanecem. Faça-se por necessidade, alienação ou status.

Para Bendassolli (2007), em tempos antigos, o tédio era exclusividade daqueles que se entregavam ao ócio, sendo portanto, algo que deveria estar extinto na atualidade, considerando a vida agitada que a globalização proporcionou. Contudo, apesar da agitação possível no dia-a-dia de uma empresa, a rotina à habita e o tédio surge através das limitações ou imposições que levam o funcionário a agir contra seus desejos.

Durante o desenrolar do filme, Michael Judge ostenta personagens enfadados que, após se despertarem da ilusão de recíprocidade em relação a empresa, canalizam o descontentamento para elaborar formas de burla-la. Não obstante, o autor cria alegorias para explicitar insatisfações que atuam na criatividade dos funcionários - um plano para desviar os centavos excedidos nas contas, por exemplo. A hipérbole fictícia dificilmente condiz com a realidade. Possivelmente, o funcionario ‘apenas’ se apropriará da práticidade individual em prol da realização dos seus afazeres, transcorrendo da compreensão de que, o trabalhador sempre individualizará sua atividade.

Conforme afirmam Carrusca, Barros e Lima “É nesse intervalo, caracterizado pela defasagem e insuficiência dos procedimentos, regras e normas, que por si só, não garantem a realização do trabalho, que o trabalhador irá construir, de forma parcilamente singular, o “jeito de fazer” sua tarefa. (2007, p.157) ”.

Em várias passagens, o autor enfatiza o desgaste emocional. Ilustra-se, como exemplo, a cena da “temível” impressora sendo destruída, na qual aduz a pressão pela qual os empregados foram submetidos; igualmente, o pedido de demissão da Joanna (Jennifer Aniston), que expressa sinais obscenos. Prevalece o ato de alívio das insatisfações cotidianas, seja através da destruição física ou moral do que martiriza.

Discretamente inserido, mas profundamente importante, é o personagem Milton Waddams (Stephen Root), possível detento do receio de perder o emprego, é constantemente humilhado pela equipe e sempre condicionado a se adaptar as mudanças favoráveis ao estabelecimento. Aparentemente perturbado, nunca é ouvido, tão pouco notado pelos empresários. Neste personagem, salienta-se uma crítica sobre o assédio moral, que será representado através do desrespeito profissional, abuso de autoridade, desvalorização da tarefa exercida pelo funcionário, não pagamento do salario, entre outros, além da indiferença ao estado emocional do sujeito.

Milton Waddams exteriorizará, em várias cenas, sua intenção de incendiar a empresa. Sempre ignorado ao expor seu descontentamento, ele terminará por realizar seu enunciado. Jacoby et als afirmam que "dar ouvidos a pessoas que manifestam algum tipo de sofrimento psíquico permite, além do aprofundamento do entendimento dos casos, um olhar sobre aspectos da vida do trabalhador que, apesar de existirem desde a antiguidade, vem sendo cada vez mais identificados e considerados como danosos tanto às pessoas como às organizações". (JACOBY et als, 2007, p.12).

Finalmente, Michael Judge, dará sua cartada final, ao exorbitar o “estrago” que o tédio, a invisibilidade e a insatisfação dos funcionários, podem causar numa empresa.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BENDASSOLLI, Pedro Fernando. Rh e Tédio. GV-executivo, vol. 6, n. 2, mar-abr 2007 - Caderno Especial: Venture Capital. Disponível em: <https://rae.fgv.br/es/gv-executivo/vol6-num2-2007/rh-tedio> Acesso em: 25 Set 2015.

JACOBY, Alessandra Rodrigues et al . Assédio moral: uma guerra invisível no contexto empresarial. Rev. Mal-Estar Subj.,  Fortaleza ,  v. 9, n. 2, jun.  2009 .   Disponível em . Acesso em: 25 Set. 2015.

MORIN, Estelle M. Os sentidos do Trabalho. Rev. adm. empres. [online]. 2001, vol.41, n.3, pp. 08-19. ISSN 0034-7590. Disponível em: <https://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0034-75902001000300002&script=sci_arttext> Acesso em: 25 Set. 2015.

IMDb - Biografia. Mike Judge. Disponível em: < https://www.imdb.com/name/nm0431918/> Acesso em: 25 Set. 2015.

OFFICE SPACE. Direção: Michael Judge. Gênero: Comédia. EUA, 1999 [produção]. 1 Filme (89 min). Disponível em: < https://www.filmesonlinegratis.net/assistir-como-enlouquecer-seu-chefe-dublado-online.html> Acesso em: 25 Set. 2015.

VIERA, Carlos Eduardo; BARROS, Vanessa Andrade; LIMA, Franciso de Paula Antunes. Psicologia em Revista, Belo Horizonte, v. 13, n. 1, p. 155-168, jun. 2007. Uma abordagem da Psicologia do Trabalho, na presença do trabalho. Disponível em: < https://www2.pucminas.br/imagedb/documento/DOC_DSC_NOME_ARQUI20080521172519.pdf > Acesso em: 25 Set. 2015.